18.1.11

O PESADELO E A REALIDADE

O PESADELO E A REALIDADE

André Silveira



A madrugada do dia 18/01/2011 pareceu não ter fim para mim. Minha cabeça latejava diante de um terrível pesadelo, que por questões físicas e psíquicas não encostava as sensíveis paredes da realidade. O medo tomou conta dos meus mais profundos pensamentos, como se nada pudesse mudar o que senti.

Antes de deitar, ainda na noite do dia 17 sentia dores na minha cabeça. Dores que pareciam não me abandonar, mesmo depois do laudo médico que não apontava nada de errado comigo. Como se a dor pressentisse o futuro. Além das dores na cabeça também sentia uma dor na alma, como se o mundo estivesse próximo de cair sob meus pés, como se nada mais tivesse importância, como se o futuro chegasse ao seu fim tão propagado. Era estranho.

Às 6 horas da manhã, em ponto, nem um segundo a mais nem a menos, levanto-me da cama coberto de suor, com lágrimas nos olhos, como se acabasse de correr por quilômetros, exalando preocupação e dor. Aquele pesadelo transcendeu as barreiras do psíquico, o que nele aconteceu não acontecera no mundo real, mas seus reflexos físicos em mim, esses sim estavam à flor da pele, escorrendo com o suor que exalava do corpo nu que corria os olhos e as mãos ao relógio, apavorado com o breu que o cercava.

Era um almoço em minha casa, e quatro pessoas sentavam à mesa para comê-lo. Os pratos eram de cerâmica branca, que refletiam nos talheres de prata caprichosamente polidos. Lembro que eu estava trajando um fino e elegante terno cinza, que destacava a gravata vermelha que me enlaçava o pescoço. Olhávamos o céu, e as nuvens que nele bailavam.

Ainda no sonho ouvi um barulho, que era similar ao som de hélices levantando vôo, e de fato era, um enorme avião daqueles com quatro hélices nas asas levantava vôo próximo ao meu bairro. Era lindo, ver aquele grande pássaro de metal levantar em direção ao céu. Era surreal. Lembro que sorri. Mas logo fechei o rosto.

Atrás daquele imenso avião, como se aparecesse direto de alguma nuvem, surgiu um jatinho comercial destes que vemos nos aeroportos, e, com uma enorme velocidade, raspou sua asa direita na asa esquerda do outro, exalando uma fumaça preta que diante dos meus olhos trazia o presságio de uma tragédia.

O que antes era uma feliz visão da realização do homem, naquele momento desenhava-se um caos que quando visto na TV parece distante, mas não ali, pois o pequeno avião rodopiava no ar, vindo em minha direção. Recordo que peguei minha esposa pela mão e me preparei para correr como nunca, gritando para alertar os outros vizinhos, mas era tarde demais, na casa ao lado da minha o avião mergulhou com sua ponta arredondada. E como se o tempo parasse a explosão não ocorreu. Meus olhos olhavam atentamente o que iria acontecer, mas nada aconteceu. Fechei os olhos e acordei na minha cama, todo suado. E no relógio marcavam exatas 6 horas da manhã.

13.1.11

TRISTE - Percepções

TRISTE
André Silveira

Os olhos ainda ardiam por conta da imensa claridade que aquele local emanava, era algo indescritível, porém triste.

Levantei e andei em direção à janela, vi as folhas caindo suavemente, a neve encobria tudo, era um cenário diferente, pensei ter ouvido alguma música embalando aquele momento, mas não era música, era o som da solidão. Eu estava sozinho no meio do nada.
Voltei a me deitar, e olhando para o teto - com os olhos cheios de lágrimas - percebi que a vida não é uma brincadeira, pois brinquei com corações e hoje estou sozinho, bebendo lágrimas ao invés de amor.
Senti um vazio na alma, como se eu não fizesse falta para ninguém naquele momento - e de fato não fazia -, pensava a todo instante em sair e dar uma volta na rua, vai que caminhando sobre as folhas secas e a neve no chão eu encontrasse alguém que me desse uma chance, que acreditasse na reabilitação de um canalha.
Mas a covardia não me deixava sair debaixo daquelas cobertas geladas, que gelavam meu coração, ao perceber que qualquer coisa que eu fizesse naquele momento não faria falta. Ninguém notaria.

Lembrei - momentos depois - o que me deixou assim, e em minha memória veio uma cena: Era um adeus muito triste, de uma pessoa para qual eu não dei valor, aliás, não dei nada além de sofrimento e humilhação, que em uma estação de trem timidamente - em meio aos soluços de choro - me abanava com decepção enquanto o trem partia. Era um coração despedaçado, que deixei em migalhas, prometendo um futuro cheio de sonhos, que acabei transformando em um melancólico pesadelo.
Eu não merecia amor de ninguém. Continuei naquela cama pro resto da vida. E quem eu feri foi feliz até seus últimos dias.
Então, só agora que estou morto, e minha alma caminha em meio aos homens, posso ver o mau que fiz. Mas não posso repará-lo, pois Deus já fez isso.

3.1.11

APENAS UMA CHANCE - Percepções

APENAS UMA CHANCE
André Silveira

É tudo o que é necessário, uma chance.

Uma chance para aqueles que perderam a esperança, que perderam algum movimento do corpo ou algum sentido. Uma chance de reparar o dano, de ser “normal” novamente. Seria mais do que uma simples chance, seria um milagre. E depender exclusivamente de um milagre é um tanto quanto desanimador, porém a esperança nunca pode acabar. Jamais.

Atualmente em nossa sociedade temos um cenário onde a beleza e a fama são o centro do mundo, as pessoas acabam com suas vidas para serem mais “perfeitas” e “famosas” do que as outras, nem que para isso seja necessário banir a felicidade e a moral da vida. E mesmo assim ainda há insatisfação quando a perfeição não vem. Isso é não valorizar o que se tem.

Somos seres humanos e nunca estamos satisfeitos, é de nossa natureza sermos assim, porém, quando estamos expostos a situações extremas aprendemos que nossa vida, aquela que antes parecia um lixo, é, na verdade, uma maravilha, uma dádiva, uma oportunidade, mesmo que o caos seja completo e que as situações sejam desfavoráveis, ainda estamos aqui e ainda temos a chance de viver e aprender.

Aprendemos que reclamar da vida é uma idiotice, pois existem pessoas que dariam a alma por poder andar novamente, que dariam toda riqueza do mundo para poder enxergar de novo, enfim, aprendemos que só podemos aprender realmente algo quando estamos inseridos no problema, quando estamos limitados a algo que antes fazíamos com facilidade.

Ainda sentimos o vento bater em nosso rosto, ainda sentimos o sangue correr em nossas veias, vemos que existem pessoas a nossa volta, somos seres abençoados, não importa a limitação, ou o desafio, ainda seremos seres humanos, que, mesmo com todas as limitações físicas e psíquicas, ainda podemos mostrar que a volta por cima é possível. A chance. A verdadeira chance de mostrar ao mundo que não há limitação física que faça o ser humano deixar de ser uma criatura abençoada. A chance de mostrar que o bem sempre pode estar presente, e que a esperança deve povoar sempre o coração de todos.

Então, ao invés de ficar reclamando de sua vida, seja porque teve um insucesso, ou se simplesmente algo não deu certo, pense bem, olhe em sua volta, existem pessoas que não vivem 10% do que você vive e são felizes por ainda terem esperança no coração. Portanto, vamos valorizar o que temos, pois, os que não têm, só desejariam uma chance. Mas eles vivem com esperança, e isso ninguém lhes pode tirar.

Doe sangue, doe órgãos, e dê mais uma chance.

Que Deus os abençoe.